7 lições que os gestores públicos podem tirar da pandemia

7 lições que os gestores públicos podem tirar da pandemia

Não se pode negar que a pandemia teve um efeito poderoso sobre os governos e suas instituições. No entanto, em uma área como o setor público, que é menos sensível do que outros setores a mudanças, deve-se perguntar se esse movimento marcará definitivamente as novas gestões ou se é algo puramente passageiro.

Em todo o caso, observando todo o cenário até o momento, podemos extrair 7 lições que os gestores públicos fariam bem em acrescentar ao seu dia a dia.

1. É preciso agir rápido

Desde o início, a Covid-19 destacou o papel central dos sistemas públicos. Embora os esforços para enfrentar a pandemia exigissem a intervenção de uma ampla gama de atores sociais, os governos foram rápidos em assumir um papel fundamental, vendo-se obrigados a se envolver em:

  • adaptar as regulamentações à nova situação e influenciar coletivamente o comportamento;
  • assumir um papel de liderança e coordenação de processos mais ágeis;
  • subsidiar os setores e grupos mais afetados pela crise;
  • oferecer pacotes de serviços públicos essenciais para proteger a população e garantir a continuidade do funcionamento das atividades-chave em um contexto crítico.

Esse papel central provavelmente será mantido no futuro, a fim de atender às demandas dos muitos problemas complexos em ambientes incertos que caracterizarão o pós-pandemia. E isso dará maior visibilidade aos sistemas públicos, como já vem ocorrendo.

Por outro lado, a pandemia evidenciou a capacidade e o empenho de muitos servidores públicos, especialmente na saúde e outros setores essenciais, embora também tenha exposto falhas e deficiências nos serviços que não eram tão evidentes da crise sanitária.

A digitalização insuficiente, a rigidez burocrática, a morosidade de muitos procedimentos, a falta de coordenação entre as administrações e a inexistência de responsabilidades claras são deficiências que se observaram mais claramente durante a pandemia e que suscitaram sentimentos de insatisfação que não desaparecerão com a Covid. É preciso digitalizar processos e acelerar ainda mais a tomada de decisão.

2. É necessário agir com transparência

A demanda da sociedade por transparência aumentou. No último ano, vimos governos serem submetidos ao apelo popular pelo acesso a informações, verificação de dados e conhecimento dos critérios para as tomadas de decisões, bem como a identidade de quem estabelece esses critérios.

As necessidades de transparência e informações verdadeiras farão parte de uma crescente demanda social.

3. Os dados vieram para ficar

Apesar das diferentes circunstâncias de cada país, ao longo do tempo tem havido um número crescente de semelhanças nas respostas dadas por governos e organizações à Covid-19.

A existência de uma ameaça comum, a enorme incerteza e a disponibilidade de dados comparáveis ??em tempo real aumentaram o benchmarking, a comparação, a emulação e, em grande medida, a convergência de políticas públicas numa escala sem precedentes.

A globalização da informação passou a permear toda a sociedade. Nunca antes os cidadãos consumiram ativamente informações comparativas tão atualizadas sobre as ações dos governos em todo o mundo e as utilizaram para formar uma opinião sobre as medidas adotadas em seu próprio país.

Os sistemas públicos nacionais deverão continuar a utilizar a análise comparativa e a desenvolvê-la como ferramenta que garanta a qualidade e legitimidade das suas decisões.

Essa tendência veio para ficar. Isso vai impor dois requisitos aos governos: em primeiro lugar, eles precisarão ajustar a mecânica de produção de respostas públicas e, em segundo lugar, eles terão que responder à opinião pública que está acostumada a olhar para o exterior e fazer comparações.

4. É preciso mobilizar toda a equipe

As tensões entre os diferentes níveis de governo têm sido uma constante na gestão da pandemia em todo o mundo, mesmo nos sistemas federais mais estabelecidos, como os Estados Unidos ou a Alemanha.

A gestão pública atual exige que as agências regionais próximas dos cidadãos desempenhem um papel no fornecimento de respostas e, se adicionarmos o setor privado e a sociedade civil a esta equação, como de fato devemos, o desafio da coordenação torna-se ainda mais complicado.

Assim, a habitual troca de informação e colaboração  – ao nível da gestão técnica e organizacional – e a consolidação de redes profissionais baseadas na confiança são os melhores instrumentos para conseguir esta coordenação de respostas.

5. Inovação e digitalização não são opções

Quando não há respostas padronizadas e formalizadas, a inovação é uma obrigação. A Covid-19 destaca essa necessidade – e também as possibilidades de um setor público inovador – mas também trouxe à tona as limitações desse setor, especialmente na forma de colapso devido à tensão excessiva, serviços estrangulados pela rigidez burocrática e pela dificuldade de funcionamento à distância.

A pandemia pode dar um ímpeto poderoso à transformação digital, mas com duas condições: o primeiro é entender que a chave para o progresso não é simplesmente o investimento em tecnologia, mas a reforma das estruturas, processos e culturas existentes.

A segunda condição, diretamente relacionada com a primeira, é aceitar que a variável de ajuste das inovações não deve, em hipótese alguma, ser um ônus excessivo para os cidadãos.

Deve-se dizer que há um claro contraste entre a facilidade com que é para nós realizar procedimentos bancários confidenciais em um celular, por exemplo, e como pode ser tedioso realizar os processos digitais burocráticos.

6. O home office deve ser consolidado

O trabalho remoto se tornou uma prática comum imposta pela Covid-19 em todo o mundo. Um estudo da Comissão Europeia estima que 40% das pessoas que atualmente trabalham na UE começaram o home office em tempo integral como resultado da pandemia.

No setor público, o chamado teletrabalho rapidamente se tornou a norma em toda a Europa e vem sendo amplamente utilizado no Brasil.

É um consenso geral que este movimento em direção ao home office não é circunstancial. Pelas características das tarefas envolvidas, o trabalho remoto se tornará uma prática comum para muitos funcionários do setor público.

Ao institucionalizar o home office na administração pública, é imperativo adaptar-se às normas trabalhistas e investir em recursos e treinamento. Uma mudança significativa na gestão das relações humanas no trabalho também é parte integrante desse processo.

7. Gerenciamento de dados, avaliação, aprendizado e responsabilidade são parte da nova gestão pública

A governança de dados, seu compartilhamento e circulação em plataformas governamentais abertas ganharam destaque durante a pandemia em muitos países. Os dados são um ativo estratégico da gestão pública. A disponibilidade, gestão eficaz, boa governança e acessibilidade social de dados serão fatores diferenciadores em uma boa gestão pública no futuro.

Sem avaliação, não há aprendizagem ou responsabilidade. E se a experiência da Covid-19 nos diz uma coisa, é que a eficácia das políticas públicas torna obrigatório considerar as evidências e aprender com elas, e por sua vez a sua legitimidade torna necessário assumir responsabilidades para com os cidadãos de uma forma exemplar e transparente.

Em suma, a Covid-19 colocou a liderança no setor público à prova. Este tem sido um momento de líderes que confiam em seus instintos, que são capazes de consultar dados em tempo real, buscar conselhos de especialistas, construir alianças, aprender com a experiência, adaptar-se a novas circunstâncias e buscar novas soluções.

 

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